Mikhaïl Khazine,
combina as suas competências económicas e geopolíticas para
analisar uma série de factos muito interessantes em matéria de
geopolítica que se desenvolveram nos últimos dias. Num artigo posto
online do 9 de Fevereiro no site (em lingua russa) World Crisis.
Em primeiro lugar,
arranjo nesta série de eventos a visita inesperada de Merkel e
Hollande, seguindo a visita de Lavrov durante a Conferencia sobre
Segurança, e finalmente a declaração de Serguei Karaganov. Tudo
isto merece ser analisado e começo pela declaração de Karaganov na
medida em que ultimamente, suas declarações públicas são raras.
Fervoroso adepto do
Ocidente, se absteve de toda a tomada de posição intelectual
radical e tentou nos últimos anos não atrair a atenção. Razão
pela qual sua declaração é de uma certa importância para ser
examinada. Ele se exprimiu da seguinte maneira: «Nós queremos que
nossos parceiros e vizinhos compreendam que o jogo que eles jogam
desde à 20 anos acabou. Nós traçamos o perímetro dos nossos
interesses geopolíticos e lutaremos por esta zona de tal forma que
poucos o imaginam». Na verdade, o contexto desta afirmação, e a
escolha da pessoa que a emitiu significa inequivocamente que
Karaganov nada mais faz que comunicar uma informação para aqueles
que hoje são chamados de «nossos parceiros».
Lembro aqui a minha
análise da intervenção de Putin na sessão do Clube Valdai,
durante o qual ele, ao que parece, enviou um ultimato aos Estados
Unidos: se eles não pararem sua política imperialista, a Rússia
será obrigada a pôr fim a uma colaboração que terá perdido seu
significado e adoptar uma política mais dura. A julgar pelos
acontecimentos, esse momento chegou.
Sobre um ponto de
vista teórico, a atitude de Putin não parece lá muito razoável. A
situação económica do país é quase catastrófica e a catástrofe
é organizada por um grupo de altos-funcionários pró-americanos,
que até agora têm dirigido a economia da Rússia. Temos todas as
razões para acreditar que eles vão continuar esse trabalho (e por
que não?) tendo como resultado o fecho das ultimas empresas de
construção mecânica do pais, o PIB vai cair, as reservas cambiais
diminuirá. O nível de vida da população também diminuiu, e
continuará a diminuir.
A Rússia tem poucos
aliados. Os Estados Unidos dedicaram muita energia para isso, e o
declaram abertamente. As esperanças de cooperação com a China se
revelaram bastante ilusórias (facto que os especialistas tinham avisado o
poder, mas este se fez surdo), os preços dos produtos petrolíferos
(e nossas receitas) diminuem, na Ucrânia, uma guerra em grande
escala se anuncia gradualmente. Além disso, e neste caso é o mais
desagradável, falta-nos uma «imagem de vitória», nesta guerra.
Sem tal imagem, não conseguiremos, e parece estranho ter um discurso
positivo. E é precisamente a ausência desta imagem que prova não
haver nenhum «plano secreto de Putin, para a vitória». Apenas é
questão, de temporárias temporárias, tácticas, ás acções do
Ocidente. Por outro lado, já é muito bom não assinar uma
capitulação imediata, como era costume entre 1990 e 2000.
Aqueles que
desejarem tomar consciência da obstrução manifestada a Lavrov em
Munique. Porque repentinamente uma tal obstrução? Se nós somos
supostos, como é hábito, perder, então por que veicular todo esse
ódio? E além disso, formulada de forma tão propagandista. Era
previsivel que estas pessoas soltassem a cólera e que isso não foi
um cenário acordado de avanço. Lavrov expressou coisas
desagradáveis para o Ocidente, mas coisas já conhecidas à muito
tempo e além disso, coisas lógicas. Isso parecia uma pequena
resposta bem elaborada, mas então porquê a obstrução? Qual era o
sentido ? Demonstrar que Lavrov seria persona-non-grata ? Ele, o
Ministro dos Negócios Estrangeiros ? Uma pessoa dependente ? Que
delírio ?
Uma questão se põe.
Vou tentar responder. Esta resposta é que a situação económica
dos Estados Unidos não é mais favorável do que a da Rússia,
talvez bem pior (em todos os casos do ponto de vista psicológico).
É precisamente sob
esta perspectiva que a sabotagem dos acordos de Minsk, pelo regime de
Kiev é compreensível: os Estados Unidos compreenderam que têm
pouco tempo e decidiram forçar a solução da questão do Donbass.
Se ocorrer uma recessão, ser-lhes à extremamente difícil apoiar
Kiev. E sem apoio, a Ucrânia entrará em colapso muito rapidamente
(a UE também não dará dinheiro), coisa que não convém ao
Ocidente. Em conformidade com o costume de que a Rússia acabará por
ceder, os Estados Unidos lançaram a última ofensiva.
Tenho tendência a
considerar que as intervenções de Lavrov e Putin (na assembleia dos
sindicatos) demonstraram claramente que não haverá nenhum recuo.
Isso significa que os Estados-Unidos vão ter de se bater
seriamente... Que nas condições caracterizadas pela crise que se
anuncia pode vir a ser muito perigoso. E cair no momento onde o mundo
vai ver que a crise começou no seguimento das acções da Rússia. E
sua autoridade crescerá consideravelmente. Mas de todas as maneiras,
quem vai compreender ? Nas condições actuais, os Estados-Unidos
precisam disso ?
Como conclusão
geral de tudo isto (isto é puramente uma previsão especulativa, com
base num sentimento pessoal que sobre factos), uma luta está
ocorrendo não entre um pais forte e um país fraco, ou entre um país
forte e um país que está a recuperar, mas entre dois países muito
fracos. Claro, um deles é formalmente muito mais forte do que o
outro, mas a quantidade de tarefas um deles se encarregou é
substancialmente maior. E de maneira geral, tanto de uma parte como
de outra não há practicamente mais recursos para uma tal
confrontação.
FONTE Tradução: Gang da Ervilha
Será muito interessante ver o desenvolvimento dos acontecimentos depois dos acordos de Minsk, ontem. Os Estados-Unidos continuam a manter seus colaboradores enviados para enquadrar Kiev na guerra contra o Donbass. Deduz-se assim que Kiev aproveitará, como antes o fez, para reorganizar suas tropas e repartir para mais uma (derrota!). Portanto tudo leva a crer que os últimos acordos não vão solucionar absolutamente nada. E pelos vistos a Rússia mais uma vez vai ter de pôr mãos à obra e dar mais uma palmadinha a Kiev e ao Tio Sam... que aparentemente não aprenderam a lição. É que apesar das sanções económicas contra os interesses russos, principalmente a baixa de preço do petróleo,e os constantes ataques ao rublo, que também lesaram enormemente a economia americana e europeia, a Rússia conseguiu resistir, mesmo tendo ficado enfraquecida no plano económico. Ora, talvez seja de esperar que os Estados-Unidos mudem de táctica. Porque soberbos como eles são, de certeza absoluta que vão tentar mais uma vez um golpe através de seus lacaios de Kiev e Bruxelas. Os EUA, meteram-se numa aventura muito perigosa, tentar algo contra a Rússia não é bem a mesma coisa que ter tentado algo contra o Iraque de Saddam Hussein... isto atendendo aos rumores de um possível fornecimento massivo de armas ás tropas ucranianas.
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