Os abstencionistas, nulos e brancos, por seu lado afirmam que se esses corruptos ainda estão no poder, é graças aos votos de quem votou neles, pois jamais poderiam ter acedido ao poder sem essa força de voto.
Os adeptos do voto então argumentam que para punir os corruptos, é necessário depositar a confiança num partido que nunca esteve no poder, pois seria o meio democraticamente mais eficaz para fazer saltar os corruptos da cadeira do poder.
O abstencionista responde então que tais argumentos são inválidos e dá como exemplo mais recente o caso do Syriza, um pequeno partido que nunca estivera antes no poder, que no fim acabou por ser o autor de uma traição sem precedentes na história da "democracia moderna". Sendo assim, o argumento de punir os partidos do poder através do voto num pequeno partido parece ser tão inútil como votar num partido de corruptos.
A verdade é que mesmo que não se deva generalizar tal feito a todos os pequenos partidos, mesmo assim não é seguramente algo que possa garantir a soberana vontade dos cidadãos.
Pessoalmente, estou convencido que este tipo de argumentos e contra-argumentos de uns e outros é apenas o fumo que na realidade esconde o fogo, seja, é apenas o efeito de uma causa. Assim convencido, melhor seria estudar a causa ao invés de seus efeitos, pois certamente aí reside o problema. E nós como cidadãos, passamos nosso tempo em querelas do tipo votas ou não votas que é precisamente o que o sistema deseja e fomenta!
Mas afinal o que é o voto ? "Um acto democrático!", responde a maioria. Sendo que o voto é um acto democrático, então isso significa que vivemos numa "democracia". Mas agora, afinal o que é essa coisa de "democracia" ? É o poder exercido pelo povo! Pois, pois, o poder exercido pelo povo... mas em que parte do mundo o poder é exercido e administrado pelo povo ? Eis aqui a essência do problema, sem deixar de realçar, que talvez a única excepção, pelo menos a mais conhecida, seja o caso da Suíça, em que realmente o povo ainda controla uma boa parte dos destinos da Nação.
Vejamos então se realmente vivemos numa democracia...
Alain Cotta, professor em ciências económicas e membro da Comissão Trilateral, numa entrevista dada a uma rádio, afirma o seguinte : " A oligarquia não me parece ser algo inquietante mas parece-me ao contrário ser o governo natural dos homens em comunidade [...] penso que cada vez mais, efectivamente as 4 categorias de indivíduos que compõem esses 1%, exercem o poder naquilo a que se chama de "democracia", que é uma espécie de ilusão que nos faz prazer, porque nós preferimos dizer todas as manhãs que temos alguns poderes sobre as decisões colectivas e que vivemos em democracia ao invés de uma oligarquia."
Este senhor afirma que vivemos numa ilusão de democracia, pois na realidade o sistema de governo é uma oligarquia. O poder exercido por alguns, para proveito de alguns e segundo a vontade de alguns. O povo assim está fora de qualquer tomada de decisão, para não ficarem descontentes então apenas lhes é dada a opção de voto de X em X anos, voto esse condicionado aos partidos que lhe são propostos para escolha. Daí se dar razão aos abstencionistas, pois suas recusas em votar demonstram claramente o descontentamento destes nas escolhas que lhes são impostas pelo sistema e a intima convicção de que nada mudará vote-se em quem se votar. É uma escolha limitada, e sendo limitada a tal e tal partido, não releva de um acto democrático mas sim de uma imposição e o de fomentar a ilusão de uma escolha democrática.
Longe de ser um sistema perfeito, Churchill dizia que a democracia era o sistema de governo do qual se entendia "ser o menos pior dentre os piores". A realidade é que desde os tempos da antiga Grécia, o sentido até então compreendido por Platão e seguidamente durante mais de 2 mil anos, tinha mudado drasticamente desde então. Daí a famosa frase de Churchill. O professor Francis Dupuis-Déry, analisa bem ao longo dos séculos a definição da palavra democracia e sua deturpação de sentido a partir da revolução americana e francesa e o feito pouco conhecido através da análise de escritos históricos, de que todos os ditos pais da democracia sem excepção, na realidade não poderiam ser mais antidemocráticos.
Nós cidadãos, devemos então pôr a seguinte questão: poderia seja qual for a forma de democracia, ter tido origem a partir de dirigentes antidemocráticos ?
O humanista Étienne de la Boétie já no séc.16 considerava que existiam três tipos de tiranos, dos quais aquele que é "eleito". Designava então este como o pior dos tiranos.
O professor Etienne Chouard, dá algumas pistas para explicar a impotência do povo face a todo este sistema, tal impotência está em efeito inscrita na Constituição de cada País. Uma frase deste que ficou muito célebre demonstra perfeitamente o caso: "Porque não é aos homens no poder de escrever as regras do poder." Frase de um amplo significado se tivermos em conta de que se é dada a tarefa a um homem no poder de escrever as suas próprias regras de poder tais como leis e constituição, o resultado obtido terá sempre tendência a desfavorecer os cidadãos tudo em favorecendo os homens no poder. Assim infelizmente aconteceu com a Constituição Portuguesa. Como remédio, Chouard preconiza que deve ser o povo a eleger uma Assembleia Constituinte através de uma tiragem á sorte, evitando-se assim influências exteriores de possíveis elites financeiras ou lobbyes, essa Assembleia estaria encarregada de escrever a Constituição e assim gravar na mesma os limites, restrições e controlo ao poder exercido pelos futuros eleitos. Eleitos estes que dirigiriam as instituições do País, num muito curto espaço de tempo, promovendo-se a rotação rápida tentando assim evitar que se agarrassem ao poder e que se crie um ambiente propicio á corrupção e compadrio.
Os especialistas em manipulação mental de massas, os professores Marco Luna e Paolo Cioni, provam que a sociedade é gerida do alto (oligarquia política) e não do baixo (cidadãos), do exterior (oligarquia financeira) e não do interior (oligarquia política). Indo mais longe, sobre a dita "democracia representativa" escrevem o seguinte : "Quando entramos numa sala de voto e votamos num candidato político - é a democracia representativa - esse nome, não fomos nós que o escolhemos, mas sim os secretariados dos partidos que nos sopraram esse nome á orelha, e de facto, uma vez eleitos, serão apenas uma das muitas marionetas ao serviço do poder económico e irão responder apenas a este último, não aos eleitores! Apesar disso, acreditamos que as eleições são a expressão da democracia."
Ainda sobre o voto do eleitor, é dito o seguinte: "As pesquisas em psicologia mostraram que o fundamento mesmo da legitimação do poder político através do voto democrático é um comportamento totalmente irracional, é o produto de factores psíquicos irracionais e subconscientes, e que o sentido jurídico de uma suposta vontade popular não pode ser atribuída á palavra "voto" que através de uma ficção jurídica. As eleições são essencialmente um instrumento de "fazer crer", de ilusão, para criar a opinião legitimada, ou para criar uma falsa percepção popular..."
Muito estes especialistas em manipulação de massas dizem sobre o assunto, obviamente não é possível relatar tudo aqui.
Concluindo, a oligarquia prima em todas as circunstâncias sobre as necessidades dos cidadãos. Tais coisas são evidentemente ocultadas expressamente aos cidadãos pela elite oligárquica que tudo fará para conservar o poder e se beneficiarem assim mutuamente, tudo em esquecendo os cidadãos aos quais se oferece o direito ao voto...e o povo assim está contente. Porque ele mesmo crê viver numa maravilhosa democracia.
Ora se nem sequer vivemos numa democracia, então o que nos legitima a votar ? Esta é a razão pela qual nunca votei, não votarei e nem tampouco faço intenções de saber o que é um boletim de voto. Possível que talvez faça uma excepção ao Paulo Morais, no sentido único de ser um contra-peso á oligarquia, de lhes dificultar a vida, porque apesar de tudo, não acredito que o Paulo Morais possa mudar seja o que for apesar das suas boas intenções e sinceridade.
Numa segunda parte, tentarei brevemente expor as várias soluções ao problema da nossa falsa democracia.
Autor: Gang2 Ervilha