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sábado, 3 de outubro de 2015

Imigração: um seísmo na História Universal



Por Pierre Milloz, jurista e economista, 21/09/2015

 ««Não, o fenómeno migratório contemporâneo é bem outra coisa. É também a invasão de um continente e de sua civilização por pessoas que lhe são estranhas.»»

A maré de imigrantes que submerge progressivamente a Europa desde há decénios (e não só o afluxo brusco de verdadeiros e falsos imigrantes que apenas é uma parte do problema) deve ser avaliada em referência á história geral dos povos e não segundo os cânones da ideologia dominante. Quer dizer que convém analisar esses movimentos migratórios com sangue-frio : não é pertença dos altos responsáveis políticos, que acordaram de repente, de ceder à emoção e sensibilidade de menina e de pregar compaixão e solidariedade ilimitada. Tem se ao contrário de ver se e até que ponto os eventos do momento se inscreverão numa perspectiva histórica própria a facilitar a sua compreensão. E aqui eu creio que uma citação de Rousseau, [...] deve ser retomada pois ela fornece um quadro ideal para reflexão. No Contrato Social, Rousseau escrevia :

«« Todos os povos têm uma espécie de força centrifuga pela qual agem continuamente uns contra os outros e os empurra a crescerem ás custas dos seus vizinhos. »»

Na verdade, os povos nunca tiveram relações duráveis em tempo de paz. Podemos arrepender-nos. Quem não se arrependeria ? Mas é um dado factual que se impõe por muito tempo. Nestes confrontos, na verdade, onde o único interesse do grupo é tomado em conta : pois cada um tomaria por uma fraqueza, própria sobretudo a romper o equilíbrio de forças em aumentando as capacidades dos rivais. É por isso que a vontade de potência, a de assentar a influência do grupo, da sua religião, da sua cultura ; ou ainda a preocupação de garantir no exterior os recursos necessários á prosperidade do grupo ; ou ainda o desejo de melhorar as condições de vida em detrimento do povo vizinho se necessário... estas são alguns dos motivos que fazem a história dos povos.

Uma das confrontações entre estes últimos vai atirar a nossa atenção em especial porque ela é de um tipo raro : ela foi marcada á partida por uma desigualdade bastante acentuada entre os protagonistas, e portanto foi o "povo" com reputação de mais fraco que seria o primeiro a "agir" contra o outro e vencer.

Nestas circunstâncias, certas condições particulares estavam reunidas. Encontramos de uma parte, um povo organizado em Estado, muito potente, muito civilizado, opulento, mas não tendo mais que uma população envelhecida e em rápido declínio - tal era o Império Romano no fim do séc.II - e por outro lado, povos com um desenvolvimento cultural, económico e material bem fraco mas em expansão demográfica : esses a quem se chamava de Bárbaros. Na ausência de uma acção compensatória vigorosa e de longo termo, o dinamismo demográfico e o dinamismo em geral que o acompanha iria mostrar que eles constituíam um factor de força capital, provar que o desequilíbrio á partida era apenas uma ilusão e desempenhar um papel muito importante nesta confrontação. Foi o drama do Império Romano.

Desde o primeiro século as legiões haviam enfrentado os Bárbaros que eles haviam rejeitado para além do Reno e do Danúbio. Mas o conflito permaneceu latente, é claro, e ele tomou a forma de uma pressão extremamente intensa, mas não militar, colocado no Limes: individualmente ou em tropas, os Bárbaros entendiam instalar-se na casa dos Romanos, com a intenção bem compreensível de encontrar as vantagens inexistentes em casa. Escutemos Camille Jullian:

« A verdade é que muitos daqueles que vão isoladamente atravessar a fronteira fá-lo-ão, dispostos a vender seus serviços e se necessário a sua liberdade em troca de um bom pão, ouro e armas brilhantes. A maior parte dessas mesmas pessoas que se formam em grandes bandos e forçam a barreira da Gália não têm expectativas mais elevadas: é questão para eles de ficar, voluntária ou involuntariamente, em terras romanas, de se fazerem aceitar pelo Imperador, a qualquer custo ... »

Este texto poderia ser escrito hoje mesmo mutatis mutandis a propósito da emigração na Europa... Mas fiquemos mais um bocado em Roma.

Muito antes do que foi acordado chamar-se de grandes invasões, os Bárbaros haviam penetrado o Império sob as condições resumidas por Camille Jullian, ou seja, quer em forçando as fronteiras, ou com o acordo de Roma: o poder imperial, de facto, estava preocupado com várias falhas da sociedade romana, devido, principalmente, à diminuição da população. Assim, ele aceita ou busca a instalação de Bárbaros para que eles contribuissem a remediar o assunto, o que levou, em particular, a incorporá-los no exército (onde eles poderiam estar em unidades formadas) e dar-lhes uma parte das terras agrícolas.

Não é possível medir com precisão o que foi esta penetração, mas sabemos que ela provocou uma "barbarização" de certos costumes desde o séc.3 e que grupos comunitários de Bárbaros se formaram sobre toda a extensão do Império que, a termo, favoreceu os assaltos finalmente victoriosos das grandes invasões. " O inimigo estava no local" e " A invasão foi facilitada pela barbarização progressiva do Império".

Poderíamos dizer que essas implantações de Bárbaros aceites "de bom grado mau grado" foram a vanguarda planificada para as futuras invasões ? Não, é claro: é mais que evidente que nenhum plano de longo prazo estava previsto neste caso. Mas objectivamente, e mesmo na ausência de qualquer intenção hostil, tais implantações acabaram por ser o que eram: a vanguarda de uma invasão.

Então como não entender a similitude com a situação contemporânea da Europa e especialmente a França face á imigração ? Por acaso não encontramos num e noutro caso uma diferença colossal entre as capacidades técnicas e materiais dos dois campos ? Os mesmos dados de ordem demográfica não são os mesmos ontem e hoje ? E se fizermos abstração de todo a recente dureza em enfrentar a onda de "refugiados", os países europeus não adoptaram uma atitude acolhedora semelhante á de Roma?

O "povo" considerado como o mais fraco não leva a mesma luta desordenada da mesma forma em 2015 que no séc.3 ? Inquestionavelmente. E estas considerações sugerem uma tentativa de resposta à questão colocada na introdução e de julgar o fenómeno migratório contemporâneo.

Procedendo especificamente de dados de ordem demográfica, este fenómeno não condiz com um trajecto dolorosos e miserável que, segundo a ideologia dominante, a Europa deveria acolher, pouco importa o seu número e o que custará, por humanidade, generosidade e braços abertos.

Não, o fenómeno migratório contemporâneo é bem outra coisa. É também a invasão de um continente e de sua civilização por pessoas que lhe são estranhas. É em todo o caso a expressão de uma mudança profunda da História, uma espécie de terremoto, que parece imposto pela natureza das coisas, uma vez que, paralelamente, mostra o dinamismo demográfico do Terceiro-Mundo e o declínio da Europa.

Este movimento, se nada for feito para agir sobre ele (e nada foi feito na França desde há cinquenta anos, a não ser para incentivá-lo), poderia se tornar num tempo mais ou menos longo numa dessas operações evocadas por Rousseau: uma parte significativa do território europeu poderia passar sob o controle de comunidades de imigrantes já instalados ou seria invadida pelo exterior. O evento fecharia uma era e abriria outra: seria similar á da queda do Império Romano ou á do triunfo emergente da Europa do sec.16.

Artigo aparecido no 28/09/2015, traduzido e reproduzido a partir do site Polemia.com

Imagem : Quadro "As invasões bárbaras" Ulpinao Checa y Sanz (1887). [a partir do séc.3 chegam os Bárbaros vindos do outro lado do Rhino: Francos, Saxões, Visigodos, Vañdalos, Suevos, Alanos]

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NdT: talvez haja uma boa diferença, é que esta imigração é incentivada pelos ideólogos políticos desde os anos 60/70, contrariamente ao que se passou nas invasões bárbaras. Nesses anos, o problema demográfico era inexistente e apesar de tudo começou-se a apoiar a imigração. Esta imigração então tem de ser considerada conjuntamente com outros dados inexistentes na época das invasões. Já para não falarmos das acções políticas de destruição da família. Há uma vontade clara, obscura, de destruir a Europa. Os chineses por exemplo, não construiram a Muralha da China para impedir as invasões bárbaras ?

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